quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Emir Sader: no elogio a Dilma, velha mídia busca pretextos para falar mal de Lula

“Sem coragem para reconhecer que se chocaram contra o país, melhor atalho que encontraram é dizer que coisas ruins vinham do estilo de Lula, que Dilma deixaria de lado”, diz sociólogo

http://blogdozeca100.blogspot.com/2011/01/presidencial.html

Em artigo publicado ontem no site de Carta Maior, o cientista político e professor da UERJ Emir Sader renova sua crítica à grande mídia comercial (a velha mídia), à luz do governo Dilma, há 45 dias no poder.

À mercê da miopia da velha mídia – que vê com Dilma “um outro governo, com linhas política e econômica distinta [daquela com Lula]” – o autor de A vingança da história (São Paulo: Boitempo Editorial, 2003) ressalta que “no essencial, a participação do Estado na economia está consolidada e, se diferença houver, é para estendê-la; os ministérios econômicos e sociais são mais coerentes entre si”.

Um dos organizadores do Fórum Social Mundial, Emir Sader fulmina a velha mídia: – “Muda o estilo, mas nunca o Brasil teve um governo de tanta continuidade como este, desde que se realizam eleições minimamente democráticas. A mesma imprensa que não se cansou de dizer que Dilma era um poste, que não existiria sozinha na campanha sem o Lula, agora busca diferenças e antagonismos onde não existem.”

Lei abaixo a íntegra do artigo. 

Lula, Dima e a velha mídia

Por Emir Sader

O esporte preferido da mídia é fazer comparações da Dilma com o Lula. Sem coragem para reconhecer que se chocaram contra o país – que deu a Lula 87% de apoio e apenas 4% de rejeição no final de um mandato que teve toda a velha mídia contra – essa mídia busca se recolocar, encontrar razões para não ser tão uniformemente opositora a tudo o que governo faz. O melhor atalho que encontraram é o de dizer que as coisas ruins, que criticavam, vinham do estilo do Lula, que Dilma deixaria de lado.

Juntam temas de política exterior, tratamento da imprensa, rigor nas finanças públicas, menos discurso e mais capacidade executiva, etc., etc. Como se fosse um outro governo, de outro bloco de forças, com linhas política e econômica distinta. Quase como se a oposição tivesse ganho. Ao invés de reconhecer seus erros brutais, tratam de alegar que é a realidade que é outra.

Como se o modelo econômico e social – âmago do governo – fosse distinto. Como se a composição do governo fosse substancialmente outra, como partidos novos tivessem ingressado e outros saído do governo. Apelam para o refrão de que “o estilo é o homem” (ou a mulher), como se a crítica fundamental que faziam ao Lula fosse de estilo.

No essencial, a participação do Estado na economia está consolidada e, se diferença houver, é para estendê-la. Os ministérios econômicos e sociais são mais coerentes entre si, tendo sido trocados ministros de pastas importantes – como comunicação, saúde e desenvolvimento – para reafirmar a hegemonia do modelo de continuidade com o governo Lula.

A política externa de priorização das alianças regionais e dos processos de integração foi reiterada na primeira viagem da Dilma ao exterior, à Argentina, assim como no acento no fortalecimento dos processos latino-americanos, como a ênfase na aproximação com o novo governo colombiano e a contribuição ao novo processo de libertação de reféns comprova.

O acerto das contas publicas se faz na lógica do compromisso do governo da Dilma de estabelecimento de taxas de juros de 2% ao final do mandato, alinhadas com as taxas internacionais, golpeando frontalmente o eixo do principal problema econômica que temos: as taxas de juros reais mais altas do mundo, que atraem o capital especulativo. A negociação do salário mínimo se faz com o apoio do Lula. A intangibilidade dos investimentos do PAC já tinha sido reafirmada pelo Lula no final do ano passado.

Muda o estilo, ênfases, certamente. Mas nunca o Brasil teve um governo de tanta continuidade como este, desde que se realizam eleições minimamente democráticas. A velha mídia busca pretextos para falar mal de Lula, no elogio a Dilma, tentando além disso jogar um contra o outro. A mesma imprensa que não se cansou de dizer que ela era um poste, que não existiria sozinha na campanha sem o Lula, etc., etc., agora avança na direção oposta, buscando diferenças e antagonismos onde não existem.

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