quinta-feira, 8 de março de 2012

Profissão cientista: menos de 3% de jovens ibero-americanos se interessam, diz estudo

Adolescentes de Madri e seis capitais sul-americanas mostram pouco desejo por carreira científica 

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/07/31/pontos-de-ciencia-395632.asp

Uma pesquisa com estudantes secundaristas de 15 a 19 anos de Madri, São Paulo, Buenos Aires, Montevidéu, Bogotá, Lima e Assunção, revelou um baixíssimo interesse do grupo em seguir a profissão de cientista. De cada mil jovens entrevistados, apenas 27 manifestaram inclinação pela carreira científica.

O estudo Los estudiantes y la ciencia – coordenado pelo argentino Carmelo Polino e financiado pelo Cyted (Programa Iberoamericano de Ciencia y Tecnología para el Desarrollo) – foi realizado entre 2008 e 2010, e envolveu 9 mil estudantes de escolas públicas e privadas das sete capitais.

O resultado é um paradoxo: ao mesmo tempo em a tecnologia faz parte do cotidiano desses jovens e, mais do que isso, renova constantemente seus sonhos de consumo, muito poucos demonstram interesse em tornar-se um cientista.

Apenas 20% dos entrevistados se disseram interessados em profissões no campo da engenharia, enquanto pouco mais da metade (56%) optou por se profissionalizar na área de ciências sociais.

“São dados preocupantes para sociedades em cujas economias há uma intensa necessidade de cientistas e engenheiros; as razões alegadas igualmente são desanimadoras: 78% dos estudantes explicam sua opção por achar que as ciências exatas e as naturais são ‘muito difíceis’, quase metade dos alunos as considera ‘chatas’, enquanto um quarto deles afirma que esses campos oferecem oportunidades limitadas de emprego”, afirma Polino.

Segundo o organizador do estudo, a quantidade de estudantes de ciências já não é suficiente para atender as demandas da economia e da indústria.

A apatia face os desafios científicos e tecnológicos demonstrada pelos entrevistados pode ser, em parte, explicada pela forma como as ciências são ensinadas; eles reclamam da limitação dos recursos usados em sala de aula.

Outro dado curioso: 50% dos jovens não acredita que as matérias científicas tenham aumentado sua compreensão da natureza, nem que possam ajudar a resolver problemas da vida cotidiana.

No Brasil, o estudo foi coordenado pelo linguista Carlos Vogt, do Laboratório de Jornalismo da Unicamp (Labjor), responsável pelo capítulo “Hábitos informativos sobre ciência e tecnologia” (disponível em www.oei.es/salactsi/libro-estudiantes.pdf).

“Num país como o nosso, cujo futuro depende dos avanços de ciência e tecnologia, e onde há uma grande carência de profissionais técnicos e engenheiros, esses números demandam atenção das autoridades e da sociedade em geral para despertar nesses jovens o interesse pelas carreiras científicas”, analisa Vogt.

São muitos os obstáculos que impedem os jovens de acessar o mundo das ciências; segundo Vogt, “um mundo visto como hermético, que pouco tem a ver com o mundo sensível em que vivemos, e nem sempre se pode encontrar com facilidade analogias na vida pessoal dos estudantes”.

A situação é agravada pelo fato de que no Brasil apenas 2% dos formados desejam seguir uma carreira no magistério, e pelo ensino deficiente que se pratica, explica o professor da Unicamp.

Outras constatações: enquanto 70% dos entrevistados concordaram com que “a ciência traz mais benefícios do que riscos à vida das pessoas”,  a maioria das respostas (21,5%) diante da premissa “a ciência e a tecnologia estão produzindo um estilo de vida artificial e desumanizado” refletiu hesitação, nem concordaram, nem discordaram.

De acordo com Carmelo Polino, é preciso eliminar barreiras culturais e reverter a lógica percebida pelos jovens de que não é preciso estudar muito para ter êxito na vida. “A cultura do esforço, que é a cultura da ciência, vem perdendo espaço. Precisamos urgentemente de uma política pública de educação e comunicação da ciência”, adverte Polino.

“É preciso analisar esses dados a partir do seu potencial, pois é possível mudar o paradigma atual, trazendo não apenas mais jovens para as carreiras científicas, como também melhorando a experiência de aprendizagem da educação secundária”, conclui Polino.

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