quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Geração eólica no Brasil: de vento em popa!

Leilão para ampliar oferta de energia no país tem 92% de projetos eólicos 

FOTO: Rona Proudfoot (http://www.photographyblogger.net/23-beautiful-kite-pictures/)

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), dos 525 empreendimentos aptos a participar do último leilão de 2012 para oferta de energia (previsto para o próximo dia 14), 484 são de usinas eólicas. A capacidade total desses projetos soma quase 11,9 GW, praticamente a mesma que terá a hidrelétrica de Belo Monte. 

Entre os projetos tecnicamente habilitados a concorrer no leilão – para atendimento de uma demanda projetada para 2017 – estão, ainda, hidrelétricas de médio porte (somando 988 MW) e pequenas (PCHs, com um total de 363 MW), termelétricas a gás natural (368 MW) e a biomassa (583 MW).

 A eletricidade eólica é obtida a partir da energia mecânica gerada pela rotação das pás, que é convertida (por meio de um gerador) em eletricidade. Os ventos são uma fonte de energia limpa e inesgotável, que pode ser aproveitada em várias localidades, no solo ou no mar, sem maior interferência no meio ambiente, como no caso das grandes hidrelétricas. 

O Brasil ocupa atualmente o 20º lugar em capacidade eólica instalada (com cerca de 5,7 GW) e, até 2014, deve somar mais 7 GW. O potencial eólico brasileiro é estimado em 150 GW, mas pode ser até duas vezes maior, avalia Maurício Tolmasquim, presidente da EPE. 

“Temos geradores com 100 metros de altura; em alturas maiores, podemos dobrar a capacidade eólica, para gerar 300 GW, o equivalente a 20 [hidrelétricas] de Itaipu”, disse Tolmasquim em outubro passado, em palestra no Rio de Janeiro. 

O estado brasileiro que concentra o maior número de empreendimentos baseados na força dos ventos é a Bahia, com 10% do total dos projetos de parques eólicos. Os investimentos previstos contemplam toda a cadeia de produção, com a fabricação de torres, máquinas e pás, conforme declarou recentemente Mathias Becker, presidente da Renova Energia, a maior investidora no estado. 

As usinas eólicas já produzem energia mais barata do que as termelétricas a gás natural e a biomassa (bagaço de cana), conforme matéria publicada na Folha de S. Paulo. No último leilão realizado pela Aneel – para formar estoque de reserva de energia para o segundo semestre de 2014 – o MWh eólico oscilou em torno de R$ 99, enquanto o MWh térmico ficou acima de R$ 120. O resultado foi uma economia de R$ 3,7 bilhões, que teriam sido gastos para ampliar em mais 460 MW a capacidade instalada de reserva. 

Um grupo de ONGs preocupadas com a questão energética no Brasil divulgou no último dia 12 o relatório “O setor elétrico brasileiro e a sustentabilidade”, no qual afirmam que os investimentos privados em energia renovável no país cresceram 8% em 2011 (somando R$ 14 bilhões), ante 6% no mundo. Este avanço foi atribuído principalmente a empreendimentos de geração eólica. 

O relatório destaca um subaproveitamento não só do potencial eólico, como também do solar. Com a tecnologia solar atualmente disponível, é possível atender a 10% de toda a demanda elétrica nacional, ocupando menos de 5% da área urbana, diz o documento. 

Um estudo recente, publicado na revista Nature Climate Change, estabelece novas e bem mais altas estimativas do potencial eólico global: 400 TW (terawatts) em áreas planas e até 1.800 TW em áreas de altitudes elevadas. “Analisando esses dados, fica claro que o uso em larga escala da energia eólica no mundo é ditada muito mais por fatores econômicos, tecnológicos e políticos, do que por fatores geofísicos”, declarou o coordenador do estudo, Ken Caldeira. 

Enquanto a uma altura de 10 metros a probabilidade de ocorrência de ventos com velocidade de 5 metros por segundo é de 35%, a 500 metros de altura, essa probabilidade sobe para 70%. Daí a ideia – já sendo testada em projetos piloto – de se utilizar pipas acopladas a geradores, como forma de captar nas alturas ventos mais fortes. A energia cinética da pipa é convertida em eletricidade mediante um gerador móvel, que movimenta-se continuamente sobre trilhos em um circuito fechado. 

Um protótipo baseado nessa ideia encontra-se em testes no Instituto de Engenharia Industrial e Automação, em Stuttgart (Alemanha). Segundo o coordenador do projeto, Joachim Montnacher, além de aproveitar ventos com maiores velocidades, geradores a pipa seriam menos custosos, de construção e instalação mais simples e de fácil manutenção. 

“O rendimento de um gerador movido a pipa é bem superior ao de uma turbina girando a 200 metros de altura; dependendo da intensidade do vento, 8 pipas com uma área total de 300 metros quadrados podem gerar energia com uma potência equivalente a 20 turbinas fixas de 1 MW cada”, explica Montnacher. 

De vento em popa no Brasil e em franca expansão mundo afora, a energia eólica – impulsionada por novas perspectivas tecnológicas para melhorar o seu aproveitamento – desponta como uma das fontes de geração elétrica renovável com maior possibilidade de uso em larga escala. 

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