segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

COP 21: acordo ambicioso e inexequível para limitar aquecimento climático

Consenso geral evoca esforços para limitar avanço da temperatura planetária em 1,5oC até 2100

http://aprobio.com.br/2015/12/12/divulgada-nova-versao-do-draft-para-acordo-climatico-em-paris/

A 21ª Conferência das Partes (COP21) reuniu em Paris representantes de 195 países no final de 2015, em busca de novos compromissos em prol do clima. 

Manter a elevação do aquecimento planetário “significativamente” abaixo dos 2oC (se possível, meio grau abaixo disso) até o final do século é “urgente”,  diz o documento final.

A ideia de fixar uma meta de 1,5oC de aumento – em relação ao nível pré-industrial – defendida com unhas e dentes por ONGs ambientalistas, foi motivada principalmente por pequenos países insulares, os mais vulneráveis às consequências catastróficas do aquecimento global. 

Só que a ciência já decretou a impossibilidade de tal meta ser atingida. Em outubro de 2014, a temperatura planetária chegou a 1oC acima daquela verificada no final do século XIX. Previsões de especialistas do clima apontam para um aumento “inercial” de 0,6oC na temperatura média do planeta, até o final do século XXI. 

Ou seja, se a Terra literalmente “se apagasse” hoje, se toda atividade antrópica fosse interrompida, o atual potencial radiativo dos gases de efeito estufa provocaria aquele aumento de temperatura. 

Por outro lado, fenômenos naturais como o El Niño (atualmente em curso no Oceano Pacífico) podem atenuar o avanço do aquecimento climático, mas não por longos períodos. 

Enfim, nada no horizonte que permita vislumbrar um aumento da temperatura média abaixo dos 1,5oC, com as ações preconizadas na COP21. Mas então por que essa meta consta do documento final da Conferência? 

Por uma parte, para que se chegasse a um acordo “consensual”. Só que o próprio texto deixa claro a incongruência de se fixar um “objetivo climático” abaixo dos 2oC (estabelecido na COP15, em Copenhague), uma vez que este último já demonstra-se bastante audacioso ou até irrealista. 

Em seu preâmbulo, diz que “é preciso reduzir o fosso entre o efeito global do engajamento das Partes para atenuar a mudança climática e os perfis de evolução das emissões globais compatíveis com a perspectiva de conter a elevação da temperatura significativamente abaixo dos 2oC”. E recomenda a busca de ações para limitar o aumento a 1,5oC.  

É evidente que incluir no texto final uma meta um tanto quanto inexequível teve um caráter “diplomático”, que traz alento à possibilidade de se antecipar ações globais corretivas em prol do clima. 

Isto porque cria uma base formal para que países menos emissores de gases deletérios por habitante possam se beneficiar de suporte técnico e financeiro (das nações mais ricas e poluidoras) para reduzir suas emissões, além de prever mecanismos eficazes para limitar as desflorestações tropicais. 

O abismo entre os compromissos voluntários assumidos na COP21 e o objetivo climático a ser alcançado é quantificado em outra parte do relatório. 

Os engajamentos assumidos preconizam um limite de 55 bilhões de toneladas de emissões (em CO2 equivalente) em 2030. Só que para limitar o aquecimento em 2oC, as emissões totais não poderiam passar de 40 bilhões de toneladas por ano. 

Em outras palavras, para se lograr essa meta, as emissões mundiais precisariam ser reduzidas drasticamente até 2050 (entre 40 e 70%) e uma economia praticamente neutra em carbono precisaria vigorar durante a segunda metade do século. 

Em 2014, as emissões (apenas de CO2) causadas por combustíveis fósseis e pela produção de cimento somaram 36 bilhões de toneladas. 

Uma ambiguidade patente expressa no documento final da Conferência, que não pode ser taxada de posição demagógica do conjunto das Partes. O tempo dirá quem ganha com o acordo aprovado, se a “saúde” do clima ou os lobbies de energias fósseis. 

2 comentários:

  1. Temática extremamente importante para as discussões e tomada de consciência sobre a saúde do nosso Planeta!! À vida!!

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  2. Enquanto perdurar a ideia da obsolescência programada e o consumismo for uma ideologia aceita pela maioria, teremos pouca chance de atingir este objetivo. Mas tudo pode mudar...

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